Reaprendendo a trabalhar
Quantas pessoas nestes últimos dias você escutou
reclamar da sobrecarga de tarefas que vem sendo submetidas dentro
dos afazeres profissionais? Parece que todos nós estamos
mais congestionados que as linhas telefônicas no dia da implantação
dos novos códigos das concessionárias. E sem poder
reclamar ao PROCON de prejuízos e danos. As conclusões
tristes desta observação são de previsões
um tanto quanto sombrias num futuro bastante próximo:
A- As empresas, nos seus processos de reestruturação,
enxugaram por demais seus quadros de funcionários, acumulando
imensamente atividades em poucos indivíduos, sem a devida
avaliação da real possibilidade.
B- Os trabalhadores se desestruturaram com o acúmulo de funções
adicionais na angústia da tentativa de garantia de suas colocações,
puro instinto animal de sobrevivência.
É claro que a causa de todo este problema mais uma vez é
a margem de lucratividade das empresas, pois sem ela, não
existiria nem as colocações dos trabalhadores, mas
também por outro lado temos que ponderar que sem os trabalhadores
não existiriam as empresas, e sem sua remuneração
também não há mercado de compra dos produtos
destas empresas, da mesma maneira com que todo este mecanismo foi
criado e evoluiu a tal ponto, foi basicamente pela ação
do homem, através da sua inteligência e no objetivo
da geração de bens e serviços, na preservação
da raça. O homem trabalha desde o início da sua existência
para o seu sustento e o da sua família, no objetivo de suas
necessidades básicas e na criação de novos
mecanismos de ajuda ao desempenho destas funções e
lazer.
Cada indivíduo, independentemente destas prerrogativas tem
seus objetivos e ansiedades de realização pessoal,
mas que não vão fugir do lazer ou das facilidades
para obtenção das necessidades básicas.
Qualquer distorção a estes conceitos podem ser consideradas
patológicas.
A produtividade é o método de avaliação
de todo o processo. Mas tenho certeza que é humanamente impossível
fazer com que qualquer que seja o indivíduo persista por
um determinado tempo na situação de pressão
psico-financeira com que convivemos hoje. Os limites individuais
são diferentes, mas existem.
Cada um tem sua maior capacidade de desenvolvimento e criatividade
em atividades específicas, podendo render e produzir mais
onde tem prazer de trabalhar, e esta é a primeira lição
do reaprendizado. A avaliação de produtividade passa
então a ter uma distorção enorme aos conceitos
atuais.
Sem uma remuneração adequada, este trabalhador também
não vai ter condições de sobrevivência
e nem capacidade para comprar mesmo aquilo que produziu, e é
claro, sem o mercado, a empresa desaparece.
O mundo aprendeu e evoluiu com a história, a perpetuação
da experiência, transmitida geração a geração,
e que hoje não é aproveitada pelas empresas, que desprezam
os profissionais por limite de idade (ou de remuneração)
é sem dúvida também uma das razões das
administrações e desempenhos acéfalos que invariavelmente
ocorrem.
Também é claro que a mistura da experiência
com a juventude, com seu ímpeto do realizar é um ingrediente
de potencialização da criatividade incalculável,
mas que também não vem sendo aproveitado, pois só
se contratam pessoas com “certo grau de experiência”.
A formação acadêmica profissional no Brasil
talvez seja o maior entrave com relação a solução
de todos estes pontos discutidos, na realidade o que vem fazendo
muita falta em relação a todas as atividades é
a educação e senso profissional.
Estamos esquecendo que o ponto principal de tudo é o HOMEM.
Ele realmente trabalha para viver e não vive para trabalhar,
e como já citado acima, o conceito inverso é patológico,
vai condená-lo com certeza.
O aumento das margens das empresas através da menor utilização
de mão-de-obra não é uma solução
sensata nem para as empresas, nem para os trabalhadores e nem para
a administração pública, pois gera incapacidade
de produzir riquezas e penaliza o próprio HOMEM.
Só vamos sair desta situação o dia que o trabalhador
realmente receber o quanto vale, e tenha onde desempenhar suas funções.
E para isto as empresas vão ter que ser menos sobrecarregadas
de encargos públicos sem retorno, pois realmente não
se justificam, e por outro lado, a administração pública
vai compensar estas supostas perdas com uma maior dinâmica
de mercado, um aquecimento da economia.
RENATO CRITTER
sócio-diretor Avipa
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